Confiram os scans, ensaio fotográfico e entrevista completa traduzida para a revista espanhola InStyle:
A nova (e excitante) vida de María
Radiante, grata, animada… María Valverde passa por seu momento mais feliz com dois grandes acontecimentos. Um, o mais pessoal, seu recente casamento, o outro, o profissional, Ali & Nino, filme que logo chegará aos cinemas. Juntos comemoramos.
Em nossa revista sempre trabalhamos com contratempo. Shootings de verão no inverno e produções de inverno em 40ºC. No último mês de março desfrutávamos de uns dias bem ensolarados quando nos ofereceram a possibilidade de fotografar María Valverde. A atriz acabava de chegar à capital, de Los Angeles, cidade na qual se estabeleceu até casar-se em segredo com o homem que a fez perder o medo do amor, Gustavo Dudamel, um dos melhores diretores de orquestra do mundo. Pois dito e feito. O dia escolhido para fotografar uma de nossas atrizes favoritas – uma de suas primeiras capas foi conosco – nos surpreendeu com umas nuvens escuras ao horizonte, mas estávamos convencidos de que o destino nos ajudaria e seria muito fácil. Contudo, a coisa não foi assim. A neve que caiu nesse dia em Madrid foi algo memorável… “Está nevando e estamos fotografando verão! Que forte!”, disse María divertida, tirando uma foto numa paisagem natalina que assomava a janela do hotel Osuna. “O que eu vou usar agora? Ânimo, garotos”, ri então, minimizando uma situação que paralisaria todos nós. Mas graças à sua atitude e naturalidade, conseguimos.
Ainda me lembro do dia que conheci María Valverde em sua primeira produção de fotos para InStyle. Acabava de ganhar o Goya de Melhor Atriz Revelação, com somente dezesseis anos, e era quase uma menina. Lembro dela natural, talvez mais tímida que agora mas igualmente envolvida com a equipe, sorridente e carinhosa; se provou milhões de vezes sem dúvida e cheguei á mesma conclusão que chego nestes momentos: esta menina é angelical.
Sua vontade e sua maneira de estar perto assombram. Tem uma personalidade forte em uma aparência completamente etérea, como de outros tempos, mas foi esse temperamento o culpado de que se decidiu, com somente treze anos, a chamar cada uma das agências de representantes em busca da oportunidade da sua vida. “Chamei sozinha, imagine, tinha certeza”, confessa. E a vida a premiou com La Flaqueza del Bolchevique, e a transformou… não em fraqueza senão na dos outros, os meios de comunicação incluídos. Agora, María é toda mulher, mas segue surpreendendo-me sua capacidade de ser entrevistada de modo que nem nos damos conta. Está sedenta por aprender, é curiosa e não perde o fio da conversa nunca; explica muito bem todas as nuances. “De que parte da Itália é?”, me diz antes de começar. “Do Sul”, a respondo, “do calcanhar da bota, conhece?”. “Ah sim, que lugar bonito… Me lembro muito do Sul da Itália. Fui filmar ali um filme italiano, Melissa P. Lembra?” Esse foi seu terceiro filme, dirigido por Luca Guadagnino e baseada em um best seller italiano muito controvertido: Os cem golpes, de Melissa Panarello. Depois filmou Los Borgia às ordens de Antonio Hernández e, uns anos mais tarde, chegou Fernando González Molina e se consagrou como ídolo de adolescentes. “Filmar Tres metros sobre el cielo foi uma experiência maravilhosa para todos. Estávamos muito unidos e envolvidos. E éramos tão livres…”, reconhece pensativa. A sua é uma carreira baseada na paixão. E me atrevo a afirmar mais; percebo que toda sua vida, pessoal e profissional, está baseada no amor para as pessoas que querem.
Fez cinema comercial e cinema independente. O que é o mais importante para gostar de um projeto?
O que fui sentindo, fiz. Minha carreira não foi estratégica. E tenho claro a quem devo agradecer: meus pais, por toda a confiança que deram sempre. Me deixaram ir em frente enquanto eles ficaram para trás, pelo o que pudesse acontecer; minha carreira existe por causa deles, por me apoiarem. Não é fácil que sua filha te diga que quer ser atriz. Serei eternamente agradecida por terem deixado minha rédea solta.
Em breve estreia Ali & Nino, uma maravilhosa adaptação de uma joia da literatura azeri, algo como um Romeu e Julieta local… Como foi a experiência?
Incrível. Filmei em 2015 quando tinha acabado de me mudar para Londres e me apareceu esta oportunidade. Me senti muito livro com Asif Kapadia; é um diretor especial, fez um cinema artístico, e me lembro de que fiz muitíssimas perguntas. Quando o filmamos, ele estava conosco, com os atores, e em todo o recorrido que fizemos no Azerbaijão e na Turquia vivemos experiências única e muito fortes.
O filmou completamente em inglês, é verdade?
Foi meu primeiro papel protagonista em inglês. É uma história de amor impossível; ele é um rapaz muçulmano e ela uma cristã ortodoxa. Querem estar juntos e nunca é o momento para eles. Foi muito complicado porquê quando atua em outro idioma, não tem a liberdade de improvisar, tem umas limitações. Todos os seus sentidos se põem em alerta e aprende a desfrutar desde esse momento, não pode relaxar, mas a adrenalina é maior. Eu gosto de trabalhar em outro idioma porquê descubro outras facetas minhas como ser humano, não só como atriz. Começa a se julgar menos e desfruta mais das coisas boas, enquanto que as ruins deixam de ser tão ruins. É curioso.
Esta aventura épica narra um amor sem limites. Qual é sua visão do amor?
O amor tem que ser livre, o entendo assim. Quando quebram o seu coração, ou você mesmo o quebra, a medida que vai crescendo, vai criando carapaças. Mas quando deixa de por limites, descobre que o amor pode voltar e ser infinito… O amor tem que melhorar o que você é.
Gustavo (Dudamel) potencializou o melhor em você?
Gustavo me abriu para o mundo, me falou de coisas que desconhecia, me ensinou a amar a música e a seguir faminta pelo conhecimento. A vida quis me presentear com este ser que me ama e que eu posso amar, e isso me fez amar mais a beleza e a vida. E, sobretudo, aprendi a valorizá-la, e a senti-la no peito e na garganta. O que mais gosto em Gustavo é sua animação, seu positivismo, sua transparência e seus olhos, que te dizem tudo. É pura magia.
Como é a sua nova vida em Los Angeles?
Los Angeles é muito grande e foi difícil me adaptar. É difícil saber onde comprar, onde ter suas aulas de ioga… Tudo custa mais do que em um lugar pequeno. Mas a nossa vida é muito familiar. Caótica, porque nossas profissões são, mas tranquila. Nós gostamos de fazer coisas simples como ir ao mar, passear, caminhadas… Vivemos perto do Griffith Park e isso ajuda.
Por que você se casou secretamente em Las Vegas?
Bem, para não ter que dar explicações (risos). Realmente não foi em Las Vegas, nos casamos no deserto. Nós improvisamos e acho que foi o melhor. Eu nunca tinha sonhado com casamento, mas foi exatamente como queríamos. Ficamos tristes por não ter nosso povo conosco, mas as coisas têm de ser feitas quando você sente e não esperar até que todos estejam prontos.
Pode me contar como e quando vocês se conheceram?
Na verdade, nos conhecemos anos atrás, quando eu estava gravando Libertador, de Alberto Arvelo, e ele compôs a trilha sonora do filme. Naquele tempo, nós tínhamos vidas diferentes e nunca aconteceu nada, mas quatro anos depois, voltamos a nos encontrar em Londres; Nós dois estávamos em uma situação muito diferente, muito desencantados com o amor, mas nos conectamos no momento certo e ideal para criar algo realmente importante. Foi algo que simplesmente… nasceu.
Eu tenho a sensação de que você é uma pessoa de família… Estou certo?
Sim, eu adoraria ter filhos e, acima de tudo, ser uma avó. Lembro da minha cercada por seus filhos e netos, e todos em uma mesa cheia de comida, um imagem bem italiana… Embora eu não tenha irmãos, minha família é grande e somos muito unidos, somos como um clã.
Esse apego que teve com sua avó, você tem com todas as mulheres de sua família?
Sim, elas são minhas guerreiras. Tem um exercício que eu fiz uma vez com um treinador que consistia em imaginar todas as mulheres da minha família atrás de mim, e desde então elas vão comigo para todos os lugares. E minha avó está lá, como a mais guerreira de todas. Para nós, mulheres, é importante ter referências que são inspiradoras e fortes para ajudá-la a ser quem você quer ser. Eu preciso estar cercada por mulheres, ter um círculo feminino em que posso me apoiar e alimentar.
Agora que a vida sorriu para você, o que você pretende fazer?
Eu sinto que tenho muito a fazer e aprender. Quero me envolver em projetos mais pessoais, me envolver desde o início, me comprometer mais com as coisas, porque às vezes os atores chegam por último… E também é hora de dizer não. Preciso aceitar novos desafios; Somente aqueles que me fazem sonhar.
Você acabou de completar 30 anos. Sente que algo em você mudou?
Levei 15 anos trabalhando e ainda tento tomar alguma perspectiva. É certeza que algo mudar quando você torna-se trintona. Aliás, quando você sai de sua zona de conforto e tem que criar um nome no exterior, nada é fácil, igual o que você já tem feito em seu país. Essa é a sensação que eu mais gosto. Mesmo que eu já tenha interpretado muitos papéis de protagonistas, por exemplo, estou tendo a oportunidade de fazer alguns secundários muito interessantes,como um papel presenteado por Melânia Laurent em seu último filme. Estar ao seu lado, mesmo que observando, é maravilhoso.
Temos te visto em muitos tapetes vermelhos e até mesmo no concerto de Natal em Viena. Você acha divertido se arrumar?
Gosto de me arrumar, mas me tornei uma pessoa muito prática. Agora vivo viajando e tento simplificar minha vida. Prefiro levar coisas básicas que podem ser usadas em todas ocasiões. Quando acompanho Gustavo em concertos ou jantares costumo usar algo neutro e foco nos acessórios. Você pode trocar seu sapato por uma bota e o mesmo look já parece diferente. Além disso, gosto de me maquiar e minha amiga Paula (Soroa) me ensinou alguns truques legais.
Se você tivesse que escolher um mantra para guiar sua vida, qual seria?
Todas coisas/oportunidades pequenas são meu alimento. As grandes são mais visíveis, é verdade, mas as pequenas são o que realmente te enchem no final do dia. Minha mãe sempre me disse para não focar em grandes metas, e sim em pequenos objetivos diários, tão básicos como olhar para uma árvore ou dar um breve passeio. Minha mãe é a alegria em forma de mulher. Um grande exemplo.
Fonte | Tradução – Larissa F.