María concedeu uma entrevista à revista Fotogramas, onde falou sobre seus projetos “The Limehouse Golem” e “Ali & Nino” – que estreiam em setembro na Espanha. Leia:
Vive em primeiro plano desde sua adolescência e pulou etapas a torto e a direito. Agora, María Valverde vive uma fase de reinvenção vital que coincide com as estreias de ‘Ali & Nino’ e de ‘The Limehouse Golem’. A atriz nos fala sobre esse processo e seu trabalho.
Passar as ferias conhecendo um pouco mais da Califórnia e desfrutando da casa em Los Angeles que divide com seu marido, o músico e diretor de orquestra venezuelano Gustavo Dudamel, se transformou em um palácio de verão para Maria Valverde (Madri, 1987) depois de um ano de muitos voos de um lado para o outro do oceano. Trajetos profissionais e pessoais (não passo mais de dois ou três meses sem ver minha família, venho o tempo todo, aproveito qualquer motivo por mais bobo que seja para viajar até a Espanha, aponta) de uma atriz que, ao mesmo tempo que internacionalizou sua carreira, confessa viver um período de reflexão e autoconhecimento, de transformação e de profunda vontade de ampliar horizontes e seguir evoluindo.
Talvez seja culpa da tão falada crise dos 30, completos há uns meses? Sim, pode ser, reconhece enquanto ri: Às vezes se questiona se quer seguir fazendo o que faz e perde a ilusão por certas coisas. Sim, é uma crise, mesmo que passe. Estou em uma exploração interna, provando coisas diferentes, vendo se quero seguir fazendo isso. Não sei se é comum aos 30, mas me sinto em um momento de mudança vital. Dediquei 15 anos à atuação, sem dar atenção, em parte, a outras coisas. Quero ir mais além. Gostaria de continuar sendo atriz, mas isso é algo que nem sempre se pode decidir, e sou muito consciente disso. Quero ser parte dos projetos desde o princípio e ajudar a lhes dar forma. E preciso encher-me de coisas que não tenham nada a ver com isso, porque são as que alimentam minha alma.
MADRI, LONDES, LOS ANGELES
María Valverde pulou etapas à velocidade da luz. Debutou, e ganhou um Goya (por La flaqueza del bolchevique, em 2003), sendo adolescente. Viveu uma juventude com certo aperto midiático durante sua relação com Mario Casas. E, sem deixar de trabalhar, nem perder certa pontaria pelos caminhos menos óbvios, decidiu tomar distância. A vida a levou a Londres, onde pode reconectar consigo mesma.
Os paparazzis dificultavam assim?
Naquele momento me custava muito entender. Agora é diferente, a perspectiva muda você. Em Londres me senti muito livre. O ato de ir ao metro, por exemplo: antes estava um pouco obcecada, se me olhavam, e passava mal. Agora me esqueço, acredito que por viver fora há um tempo e vir sozinha de vez em quando, e me sinto tranquila. Sem uma pressão que antes colocava em mim mesma. Eu acredito que as coisas mudam, se ajeitam, e você entende a situação um pouco melhor. E supondo que em alguns momentos um é um pouco triste, mas faz o melhor que pode.
Não seria fácil de aguentar…
Não era, mas tampouco ajudei que fosse um pouco mais fácil. É complicado porque perde naturalidade, sente que não pode ser você, te incomoda pelas pessoas que estão naquele momento com você… Imagino que tem que encontrar um balanço. Por isso, às vezes é muito bom o anonimato. Tudo termina sendo muito mais saudável. Agora levo tudo isso com muito mais senso de humor.
De Londres cruzou o oceano e se instalou em Los Angeles. Quer conquistar as Américas?
Não fui a Los Angeles por trabalho, nem para buscar oportunidades, senão por amor. De algum modo, os atores vivem de um modo parecido, porque nos movemos constantemente. Às vezes nossas vidas pessoais e familiares são um pouco caóticas, mas é questão de se organizar. Agora mesmo estou muito aberta ao que vier, sempre que imagino. Nós também temos que nos reconectar com a profissão de vez em quando.
NÃO AO CONFORTO
Amiga do risco desde que aceitou ser a protagonista de Melissa P. (Lucas Guadagnino, 2005), Valverde estrela este mês dois filmes com os quais segue ruindo o que sobrou da zona de conforto. Por um lado, Ali & Nino (Asif Kapadia, 2016), trágica história de amor marcada pela guerra, que a levou até o Azerbaijão. Por outro lado, The Limehouse Golem (Juan Carlos Medina, 2016), relato de suspense situado na Londres vitoriana.
Creio que as duas escolhas corresponderam a um estado emocional e vital…
Sim. Ali & Nino fazia parte de uma fase de lançar-me no vazio, de escapar em todos os sentidos da minha zona de conforto. O projeto chegou para mim quando estava na Inglaterra, vivendo uma sensação de recomeço. Uma etapa estranha e interessante, a qual sabia que podia passar. É um filme que fez com que eu me abrisse ao mundo. E The Limehouse Golem é consequência desse salto ao vazio. É certo que ambas têm um significado especial pelo momento vital em que me encantava. De algum modo, estes projetos se converteram no princípio de ater me reinventar.
Em um da vida à filha de Mandy Patinkin. Em outro cruza a investigação do personagem de Bill Nighy. Dois atores enormes e icônicos…
É verdade. Mandy é o ser mais maravilhoso que pode encontrar, alguém extraordinariamente único. E, claro, um ícone: o Íñigo Montoya de La Princesa Prometida! E Bill… sou fã absoluta de Love Actually… Mas nunca me atrevi a dizer para ele. Reconheço que ele é um ser mágico e, mesmo que só tivemos uma cena juntos, pudemos desfrutar de muitos momentos juntos, e sempre o guardarei em uma parte especial de meu coração.
O que a aproximou de Ali y Nino?
Me parecia uma história tão romântica e uma personagem tão forte: uma menina que se torna mulher e vive experiências muito duras… Asif queria fazer um filme que poderia ser filmado há muitos anos sem que saia de moda, com certo classicismo. Na verdade, esse é o cinema de onde viemos e pelo qual nos apaixonamos, os clássicos seguem sendo nossos referentes, mesmo que soe bobo. Mas a verdade é que me encanta ser boba. Em todo caso, tive que trabalhar muito para estar à altura.
Sendo, como sempre disse, tão perfeccionista, estar à altura deve ser algo esgotados e complicado de fazer.
Faz parte da minha personalidade. Não sou masoquista, não provoco dor em mim. Sei quais são minhas virtudes e as aproveito. Às vezes sinto que os enganei todos estes anos e não se deram conta (risos). Com Asif, o bom é que nos tornamos amigos e foi meu cúmplice. Como atriz valorizo muito que seja um diretor que filme junto aos atores, que não fique num pedestal. Me senti muito livre e não é comum. Na verdade, só havia acontecido com David Trueba, mas ele levava a câmera e nesse lavabo não cabia ninguém mais (e volta a rir, lembrando Madrid, 1987).
Em The Limehouse Golem, em frente um papel secundários…
Sim, e, se sou sincera, o aproveitei muitíssimo. E foi uma oportunidade para criar uma femme fatale. Gostei muito do resultado, a obscuridade de todos os personagens e essa paleta de cores decadente tão atrativa visualmente.
Seu futuro fala francês: Cédric Klapisch (Una casa de locos) a dirigiu em Nuestras Vidas en la Borgoña (Ce qui nous lie). E Mélanie Laurent o fez em Plonger e em Galveston.
Com Cédric vivi uma experiência preciosa, sabia que seria alguém muito especial só conhecendo seu cinema. Seu belo filme foi um presente. E Mélanie… é uma deusa. Um todo. Uma referencia de mulher e uma atriz que admiro muitíssimo. Qualquer coisa que me diga será pouco. Como diretora deu um giro na minha vida com Plonger, o melhor personagem que interpretei, e me segurou a mão tão forte como nunca fizeram. Entrou no meu coração. Com ela vou ao fim do mundo.
Fonte | Tradução – Larissa F.