Ao descer do carro no Plaza de Cánovas del Castillo, próximo à fachada do hotel Palace, María Valverde é um zumbi com uma distinta capa de chuva bege. Ela está em Madrid há menos de 24 horas desde que pousou em um voo direto de Los Angeles, sua casa por cinco anos. Esta manhã, em sua casa em Carabanchel, mal teve tempo de terminar um café e algumas torradas com azeite, quando começou sua caminhada conosco ainda sentia a ressaca do jetlag entre os dois continentes aos quais agora pertence: Europa e América, especialmente a América Latina, porque, além de a Califórnia já ser muito hispânica, sua vida esteve muito ligada à América Latina por meio de projetos profissionais, das amizades e do casamento com um venezuelano Gustavo Dudamel.
Ao caminhar e posar para as primeiras fotos, María Valverde Rodríguez (Madrid, 34 anos) está cruzando o limiar da jetlag e fluindo melhor. Além da capa de chuva, ela usa uma blusa preta, calça jeans e mocassim. No auge do Museu do Prado, o fotógrafo pede que ela olhe as pinturas em uma barraca de rua. Ela diz que está envergonhada, mas olha. Ela perambula entre as telas sem costura do gerente do posto, Agustín Migueli, originário de uma cidade argentina chamada Azul. “São pinturas a óleo originais de gravuras espanholas do pintor impressionista Pedro Fraile”, relata o argentino. Observamos Valverde. Sua maquiadora, Paula Soroa, analisa: “Ela é uma beleza clássica por excelência, como de outra época. Sempre me lembrou da beleza das esculturas”. Elas trabalham juntas e são amigas desde que a atriz fez seu primeiro filme, La flaqueza del Bolchevique. Ela tinha 15 anos de idade. Sua interpretação natural e a poética singular de seu rosto surpreenderam e ela ganhou um Goya. Valverde se afasta do estande de pintura a óleo. “Eu gostaria de tocá-los”, diz ela. E ela se imagina podendo acariciar as obras do Prado. E pensa: “Seria o maior luxo possível”. Ela é apaixonado por arte, sua materialidade. A última vez que esteve na Espanha, em junho, participou de uma atividade no museu, na sala Las Meninas. Ele recitou o poema Noche transfigurada sob o olhar de Velázquez.
A caminhada continua e leva à Reina Sofia, um de seus lugares favoritos. O resto de nós espera do lado de fora. O escritor, duas pessoas que trabalham com ela e duas outras pessoas da Netflix. A plataforma estreia seus dois novos filmes como protagonista: no dia 29 de setembro, Fuimos Canciones, comédia produzida na Espanha e dirigida por Juana Macías, e Distancia de Rescate, drama de suspense de Claudia Llosa gravado no Chile. No primeiro, que visa o público do arco milenar, ela interpreta Maca, uma estilista sujeita aos caprichos de uma influenciadora tão tola a ponto de dizer coisas como “faça como quiser, mas melhore esse cronograma”. No segundo ela é Amanda, uma mulher que chega com a filha a uma casa de campo e se vê presa em um pesadelo entre o real e o irreal. Valverde é solvente na comédia e sutil na intriga, com o preciso ponto de profundidade e contenção que ativa o contraste magnético que se estabelece entre seu personagem e o da argentina Dolores Fonzi, Carola, fera telúrica.
Tomamos um café enquanto as fotos são tiradas no Reina. Conversamos sobre como a estética do século 21 tem voltado à moda. A ascensão do botox até entre os jovens, os filtros nas redes sociais… Ao mesmo tempo, penso em como se pode definir a beleza de Valverde. Não consigo encontrar, embora palavras como naturalidade, limpeza, autenticidade, classicismo se repitam. Manuel Martín Cuenca, que a dirigiu em La flaqueza del bolschevique, me disse alguns dias depois: “Tem algo primário. Seu perfil, seu nariz, suas feições não são perfeitos, e essa imperfeição torna o conjunto ainda mais bonito. Ele sempre me lembrou a Monica Vitti”. A beleza de Valverde é, talvez, o oposto de um filtro.
Ao sair do museu, a atriz começa a falar sobre algo do qual não se lembra de um detalhe e lamenta:
“Eu sou meio Dory, esqueço dos nomes.”
“Quem é Dory?”
“Nemo, você não viu Procurando Nemo!” – se surpreende. E acrescenta com simpatia: “Ei, sou a primeira que não viu muitas coisas.”
Por volta das três da tarde estamos no restaurante El Buey, especializado em carnes. Na entrada há uma cabeça de touro empalhada. Nas paredes das instalações há desenhos de cenas de lutas. Valverde sugeriu este site porque ele é celíaco e eles se preocupam com o problema do glúten. “Mas, para que conste: sou contra as touradas”, avisa.
Eles nos servem carne grelhada, salada, batata frita. Ela: “As batatas fritas me fascinam. Eu poderia comer apenas batatas fritas.” Estamos falando sobre sua vizinhança, Carabanchel. “Para mim é tudo. Minhas raízes, minha família”. Um artista de sucesso poderia ter escolhido uma vizinhança definida pelo adjetivo exclusivo assustador. Ela preferiu comprar uma casa própria, perto da casa onde cresceu e onde vivem seus pais. Ela era uma criança feliz ali, segundo seu relato, embora ainda houvesse aqueles tempos terríveis de heroína em que as mães contavam aos filhos quando saíam para tomar cuidado para não pisar em uma seringa. Seu único avô vivo, Benito Valverde, também ainda está em Carabanchel. Ele nasceu em uma velha casa cujo baixo agora é um kebab. Quando vai visitá-lo em sua residência, Benito faz questão de apresentá-la às enfermeiras: “Olha, olha. Essa é minha neta”.
Alguns dias depois conversei por vídeo chamada com seus pais, Gloria Rodríguez e Ricardo Valverde. Eles vão me dizer que María Valverde Rodríguez era uma menina feliz. Filha única, foi criada para ser aberta e generosa. Assim foi, dizem eles. “Trouxe tantos amigos que dizíamos que nossa casa era o refeitório”, lembra ele. Gloria acabou de se aposentar. Ela era uma enfermeira da escola. O marido dela se aposentou há um ano. Teve empregos administrativos – em uma empresa de navegação, em uma agência de publicidade, na Coca-Cola, em uma agência – e também foi, durante três anos, aquecedor. A felicidade infantil da filha, explicam, foi contribuída pelas férias no campo em Alcarria, onde sua mãe nasceu. Lá ela passou o verão com os primos e a avó, que preparou enormes quantidades de pudim de arroz para eles e os colocou ao lado dela com suas tigelas para assistirem juntos aos filmes de Sarita Montiel.
“O que está tatuado no seu braço?” Eu pergunto à atriz, que desfruta de sua comida lentamente.
“Diz ‘minha garota, meu paraíso’, que é como minha avó Glória sempre me chamava.”
Poucos meses depois de vencer o Goya, ela se tornou independente. Ela tinha 17 anos. Ela foi morar com um namorado. “Era muito cedo. Eu diria à minha garota do passado para se dar um pouco mais de tempo para fazer tudo o que ela fazia quando era tão jovem”, ela reflete. Ricardo e Glória acham que foi uma decisão da qual ela aprendeu e característica de uma alma aventureira. “Um dia, quando ela tinha três ou quatro anos, ela veio até nós à meia-noite e disse que estava indo para a Austrália”, disse seu pai. “Dissemos a ela que era uma ideia muito boa. Colocamos algumas roupas em uma mala rosa de boneca e abrimos a porta para ela sair. Ela saiu convencida. Nós olhamos pelo olho mágico e um minuto depois ela apareceu. Quando abrimos, ela disse: “Vou embora amanhã, amanhã à noite.”
Aos 10 anos, ela começou a insistir que queria ser atriz. “Fiquei entusiasmado com os filmes e os pôsteres na Gran Vía”, diz Valverde. Nessa idade, viu a escultura Mujer con espejo de Botero no Plaza de Colón e sentiu “que um artista poderia fazer algo que permanece no tempo, de alguma forma tornar-se imortal”.
“Um pouco prematuro, não é?”
“Sim, mas eu senti isso. Acho que desde então tive um desejo de ser uma atriz.”
Ela implorou à mãe que a levasse às agências. Ela foi matriculada em algumas delas. A esperança de Gloria era que ela acabasse se esquecendo disso. Além do fato de que os dois trabalhavam e seria uma bagunça andar com ela de teste em teste, isso parecia “surreal” para uma garota de sua idade. Se uma mensagem da agência chegasse à secretária eletrônica, eles a apagavam. Um dia, uma delas escapou. Sua filha a ouviu. Seria a sua primeira aparição na televisão, à frente do programa Qué apostamos.
“Não cheguei aqui por causa da magia do destino”, enfatiza Valverde. Ela tinha o talento. Também determinação.
Sua primeira professora de teatro foi Ana Crecente. Foi uma atividade depois da escola. “Se destacou muito. Ela foi muito espontânea e ousou fazer qualquer coisa”, conta por telefone. Ela se lembra de um monólogo que fez como madrasta de Branca de Neve. E como ela ficou desapontado quando foi escalada para um papel coadjuvante em Grease. “Costumava dar-lhe papéis principais, mas fiz-lhe compreender que deviam ser partilhados com todos”, relembra Crecente. Quando a professora mudou de escola, ela disse a Gloria que sua filha tinha habilidades: “Recomendei que você a levasse para uma academia de teatro.”
“Graças a ela, continuei atuando e acabei no casting de La flaqueza del bolschevique”, conta a atriz. Desde então, ela desenvolveu uma carreira sólida, versátil e rápida. Em 18 anos, ele participou de 37 filmes. Em 2014 atingiu o ponto de saturação profissional e pessoal e foi para Londres, onde passou mais de um ano sozinha, libertada. “Eu tinha entrado em um buraco, e isso me permitiu me reconstruir, reposicionar minhas prioridades”, explica. Seu processo continuou em Los Angeles: “Lá eu encontrei tempo para ver as coisas de outra perspectiva, com menos fardos e mais facilmente para me conhecer.” Quais são as coisas mais importantes da sua vida hoje? “O tempo é a coisa mais importante que temos. Para desfrutar de seus entes queridos, sua família, seu trabalho, introspecção; aproveitar as experiências”.
Depois de terminar de gravar Distancia de Rescate, baseado no romance de Samanta Schweblin e rodado em 2019, Valverde tirou mais de um ano de folga. “A distância foi uma experiência profunda, uma filmagem intensa. Foi um desafio que vivi como algo muito pessoal e foi difícil para mim voltar a trabalhar depois da personagem da Amanda”, conta. Fuimos Canciones, um filme leve e luminoso, apesar das dores geracionais tão presentes na sua história, permitiu-lhe retomar o caminho com suavidade e coerência interna, como diz: “Li a personagem de Maca e senti-me identificada com o seu medo de dizer as coisas, de não encontrar o seu espaço, de estar sempre disponível mas não feliz, de não estabelecer limites. Acho que representa uma geração prejudicada pelo que aconteceu, como a crise de 2008, e portanto indecisa e temerosa”.
No futuro, você quer dar rédea solta à sua curiosidade – ela costuma repetir essa palavra; também o verbo tentar – e apostar em seus próprios projetos com pessoas próximas. Ela tem algo acontecendo, relacionado ao cinema, que ainda não pode comentar. E o seu sonho – “a minha fantasia”, diz ela – seria ter um estúdio “onde pudesse criar e investigar pintura e escultura”. “O que mais me deixa feliz é ter as mãos cheias de cola ou tinta. Essa é a minha paixão, a verdade”.
— E o que o impede de ter estúdio e criar?
Eu mesma. Eu me paro. É um sonho, mas no final das contas cada um estabelece seus próprios limites, certo?
Uma nova casa, Paris, junta-se à sua vida este ano. Seu parceiro ingressou como diretor musical da Ópera da capital francesa, continuando a dirigir a Filarmônica de Los Angeles. “Gustavo é a minha casa”, diz ela, “uma casa nômade. Por isso vamos caminhar entre Paris, Los Angeles, Carabanchel e, claro, La Alcarria”.
Essa garota vai para a Austrália qualquer dia.
Fonte | Tradução – Equipe María Valverde Brasil
Durante sua passagem pela Espanha para promover “Araña”, María Valverde concedeu uma entrevista ao canal Casa de América. Assista o bate-papo completo abaixo:
Confiram duas imagens inéditas do ensaio promocional para a série “La Fuga”.
Sergi Margalef, fotógrafo que realizou um ensaio com María em meados de 2011, postou algumas imagens inéditas dos bastidores em seu instagram. Veja as fotos em nossa galeria (e não deixem de curti-las na página do mesmo):
Dando continuidade à divulgação de Plonger, María Valverde concedeu uma entrevista ao site Liberation. Leia:
A doce e sonhadora atriz espanhola interpreta uma fotógrafa mãe passando por dúvidas no último filme de Mélanie Laurent, Plonger.
Se Paris é uma festa, como diz a propaganda, a capital ainda pode ser um diferencial onde a alma é sem limites, dá para se pensar ao ver a morena dos sonhos María Valverde, com um chapéu na cabeça, andando pelo Champ-de-Mars.
A atriz está na França para a promoção de Plonger, o novo filme de Mélanie Laurent, adaptado do livro de Christophe Ono-dit-Biot, no qual ela interpreta uma fotógrafa com incertezas, sonhando com mais aventuras e conflitos do que ser mãe de um bebê. E, ao contrário dos maus hábitos das estrelas internacionais, que engolem entrevistas como se fossem Apéricubes, imediatamente digeridas, logo esquecidas, a espanhola toma tempo para responder nossas perguntas em um café chique do 7º arrondissement. Além disso, ela ficará aqui pelo menos até o fim de dezembro. Seu marido, Gustavo Dudamel, um famoso maestro venezuelano da Orquestra Filarmônica de Los Angeles liderará a Bohème na Ópera de Paris. Ela aproveitará a oportunidade para caminhar, ver o Sena fluir sob a ponte Mirabeau ou passar dias tranquilos em Clinchy. Ele tem 36 anos, ela 30, eles estão juntos desde fevereiro, ela diz imediatamente, com voz suave e olhos brilhando. “Eu nunca quis realmente me casar. Não acreditava que devemos provar nosso amor assim, mas ele mudou todas as minhas crenças.”
María Valverde teve tudo muito rápido, talvez até um pouco cedo demais. Com a idade de 16 anos, em 2003, uma madrilena, de uma família comum, um pai desempregado aos 50 anos e incapaz de encontrar emprego, uma enfermeira mãe, estrelou La Flaqueza del Bolchevique de Manuel Martín Cuenca. Ela ganhou um Goya de Melhor Atriz Revelação, equivalente ao César para os nossos vizinhos hispânicos. Ela é uma celebridade, as capas de revistas e filmes que estão ligados, mais ou menos bons, em casa e no exterior, a Hollywood, com Exodus… de Ridley Scott, em 2014. Ela diz, em frente a um copo de água: “Comecei minha carreira pelo telhado e agora estou tentando construir as paredes”. Este ano, a construção foi francesa, aparecendo em “Ce qui nos lie”, de Cédric Klapisch, antes de “Plonger”, e então terá outro filme com Mélanie Laurent, Galveston, filmado em inglês nos Estados Unidos.
“Preciso de papéis em que falamos sobre mulheres reais, que estão sofrendo, que desejam ser bem-sucedidas e livres”, entusiasma-se a atriz. “Paz é uma mulher de ruptura, está perdida, não sabe onde ela está. Ela é todas as mulheres: todas nós estivemos lá”.
“Tive uma chance louca de encontrar em María”, escreveu Mélanie Laurent por correio. “Ela é maravilhosa: ela não apenas tem uma beleza irresistível, ela é acima de tudo sensível, inteligente e profundamente amável. Foi um sonho trabalhar com ela”. A atriz não fala francês: ela aprendeu seu papel na fonética. No filme, ela é apaixonante e encantadora e pontua suas frases com um sotaque ibérico encantador.
Na alegre atmosfera do café, onde ninguém parece precisar voltar ao trabalho, María Valverde sabe que já viveu uma vida, não gostaria de mudar nada no passado, mas gostaria de encontrar uma forma de liberdade. A católica não praticante diz que pinta muito, fala sobre as emoções que sente em frente às obras de Botero ou em face das obras-primas da Uffizi em Florença. Borboletas na barriga e na vertigem, como qualquer boa heroína romântica, à beira do desmaio, uma síndrome de Stendhal perfeita. A atriz gostaria de fazer escultura, estudar as artes, lamenta não ter ido para a universidade, depois de parar o ensino médio para um filme na Itália. “Minha vida pessoal é mais importante do que o meu trabalho”, ela explica, com um olhar separado que vemos com mais frequência em pessoas com mais idade, os cabelos brancos mais próximos, do que em uma garota com flores. Ou é como esta geração “Y” que declara alto e claro não ter nascido para sofrer. “Eu estava assistindo o outro dia um documentário, Jim & Andy, sobre Jim Carrey. Ele dá tudo, ele é seu personagem o tempo todo. Há atores como esse, é por isso que eles são incríveis. Não sei se quero ser assim. Talvez seja um erro, talvez não seja bem sucedida por causa disso”. Ela disse sorrindo, sem arrependimento, e não vemos a falsa modéstia: na verdade, paz. A perfeição não é para ela: não importa.
Desde que ela se mudou para Los Angeles, o sonho americano não a encanta. Valverde lamenta a simplicidade da Europa, onde você não precisa se planejar com antecedência, onde você pode se perder caminhando e usando o transporte público. A assumidamente feminista se refere para esta vida de encenação onde, diante de um ponto de vista, as pessoas preferem tirar uma selfie ao invés de admirar a beleza do lugar. Ah, claro, com mais de 700 mil seguidores no Instagram, a atriz entende o jogo de mídia social. “Eu realmente não gosto disso, mas eu vejo isso como um instrumento de trabalho. É importante estar conectado com meus fãs”, ela quase se desculpa.
A espanhola insiste em sua responsabilidade quando fala, prefere ser ponderada. Quanto a Weinstein e #Metoo, ela não disse nada. “Estou com elas”, ela repete três vezes. “Eu sofri uma ou duas vezes no trabalho, mas nunca experimentei agressão física”. E, explica: “Na Espanha, tivemos um grande problema. Estupro coletivo em Pamplona contra uma menina de 18 anos. Mas não irei publicar uma mensagem no Instagram, não mudaria nada. Eu prefiro ir com os outros para protestar nas ruas”.
Politicamente, os últimos meses parecem um barco bêbado com transtornos e desesperançado. Aquela que prefere Barcelona ao Real Madrid (“muito arrogante”) está triste, inevitavelmente, pela situação na Catalunha: “Estou completamente perdida. Eu tenho muitos amigos lá, eles estão meio e meio. Não sei onde está a verdade”, ela espera “que a Espanha permaneça unificada, mas não acho que seja realmente possível”. Entre Trump e Venezuela, o país de Gustavo Dudamel, a situação não é melhor. Seu marido, há muito tempo Chavista, agora critica Maduro, a ponto de o presidente cancelar este verão a turnê americana da Orquestra Sinfônica Simón Bolívar que ele dirige. Ela procura suas palavras, realmente não as encontra: “Está em toda parte. Existe um enorme problema de comunicação, e os políticos não querem vê-lo”.
Esta é a boêmia, María Valverde, que caminha no frio e no cinza de novembro: ela gostaria de viver feliz, com amor e água fresca, em um sótão do Quartier Latin, mas o mundo sempre a alcança.
Fonte | Tradução – Larissa F.
Photoshoot novo a caminho! O fotografo Nico Bustos compartilhou duas fotos e um vídeo de María nos bastidores de um novo ensaio fotográfico para a revista Vogue Spain. Veja:
María Valverde concedeu uma breve entrevista para a revista Yo Dona, onde falou sobre sua nova vida em Los Angeles. Leia e confira os scans abaixo:
María Valverde (Madrid, 1987) mora há alguns meses em Los Angeles, mas não apenas para perseguir seu sonho de Hollywood. A mudança ocorreu graças ao amor. Ali vive com seu marido, o diretor da Orquestra Filarmônica de Los Angeles, Gustavo Dudamel, um venezuelano extrovertido e apaixonado que inspirou a série de televisão Mozart in the Jungle, e foi o maestro mais jovem (35 anos) a dirigir o Concerto de Ano Novo de Viena.
Apesar dos contatos da pequena prodígio com diretores de moda, Valverde continua livre e está voltando para o cinema europeu. Conseguiu seu primeiro papel de protagonista em um filme francês, Plonger, da atriz e diretora Mélanie Laurent. E em 27 de outubro estréia Nuestra Vida En La Borgona (Ce qui nous lie), de Cédric Klapisch, onde interpreta um pequeno papel em um drama familiar que faz reflexão sobre a fraternidade, cultura do vinho e nostalgias. A madrilena sabe tudo sobre melancolia.
Em 2014 se mudou para Londres, uma cidade que, afirma, lhe deu liberdade e mudou sua vida. Agora se obriga a voltar a cada três meses a Espanha para visitar seus familiares. “É uma regra que eu impus porque sou muito familiar. Eles são o que eu mais preciso”, confessa.
Já começou a ir para audições em Hollywood?
Estou levando isso com calma. Quero seguir construindo minha carreira sob uma base muito forte e no meu ritmo. Depois, se terei que trabalhar, eu vou atrás. Los Angeles não é uma cidade muito fácil. Nela, você tem que criar sua comunidade e isso leva um tempo.
O resultado é animador?
Sou bastante inconformista e eu gosto de viver bem, e na Espanha eu tenho muitas facilidades: ali estão minha família e amigos, meu idioma…. Quando me mudei para Londres, precisei reduzir minha vida a uma maleta e pensar em mim. Me ajudou muito. Em Los Angeles estou fazendo praticamente o mesmo, mas é diferente porque agora eu tenho meu esposo.
Onde começou essa necessidade de mudança?
De alguma maneira é meio que uma crise existencial. Crescer da medo. Ninguém te ensina a fazer. Quando estamos sozinhos lembramos que devemos aproveitar as pessoas que temos ao redor, no final, quando tomamos as decisões, todos se transformam em um só.
Esta crise tem a ver com você tornando-se trintona esse ano?
Creio que isso acontece em todas as idades. O mesmo com homens e mulheres, cada um chama de uma maneira. Às vezes isso fica ridículo, mas é real e temos que ser honestos com os momentos vitais. Tudo é tão fácil agora, mas sempre queremos mais, devemos nos perguntar até que ponto, encontrar um balanceamento e viver o agora. Parece besteira, mas é a verdade.
Como é sua vida em Los Angeles?
Tenho a sensação de que vou me apaixonar pela cidade. Alejandro Ináreitu, de quem somos muitos amigos, nos disse que viver ali [LA] é como estar em um spa. E é verdade, porque no final das contas nós precisamos trabalhar fora. O que eu gosto dessa cidade é que é fácil ter uma casa com seu próprio jardinzinho . É também estar rodeada de muitas outras coisas.
Como quais?
A natureza é incrível… Eu gosto de Big Sur, mesmo que agora não podemos visitar. Houve uma avalanche e a montanha se desprendeu. Eu vou a Santa Bárbara e até parece a Espanha, com os carvalhos, vinhos e as construções. Eu viviria em São Francisco e sou muito fã de Carmel, o deserto de Joshua tree, que é mágico, e de Palm Springs, que é como uma viagem para o passado, aos anos 50.
E pontos negativos?
É uma cidade passiva-agressiva, porque parece que está acontecendo nada, mas está acontecendo tudo. E não tem como dar uma volta sem ter que pegar o carro. É mais meditado.
Você sente falta do metrô?
Você entendeu errado, pois sou carne do metrô (como se não vivesse sem). Também gosto de andar. Às vezes eu deixo o carro a algumas quadras do meu destino e vou caminhando. Eu me obrigo a deixar a situação difícil. Mas eu sempre acho que vou gostar muito.
Qual é a palavra em inglês que você mais odeia porque é difícil de pronunciar?
São muitas. Mas tem algo que eu detesto: estar tentando falar em inglês com todo o esforço e te soltam: ‘Tranquila, eu falo espanhol pior’. E eu pergunto: ‘Você sabe espanhol?’ e te respondem que não. Me sinto insultada. É seu humor, mas me ofende. Tem muitas palavras que são difíceis para mim, mas às vezes eu as invento. Invento algumas palavras em castelhano. Hoje em dia estou me esforçando tanto no inglês que às vezes eu não encontro as palavras em espanhol.
O que é mais difícil, falar em inglês ou em francês em filme com espanhol com sotaque?
No fim tudo é um pouco parecido, porque é tudo muito musical. Mas eu gosto muito de francês, mas quando trabalhei em La Mula (Michael Radford, 2013) foi muito difícil conseguir sotaques corretos. Mas é divertido.
Seu esposo é venezuelano, assim imagino que não tens que falar em inglês entre vocês dois.
Não, mas às vezes soa natural. O filho dele é bilingue, de modo que em algumas ocasiões nós mesclamos e falamos em inglês.
Que tipo de música é tocada em sua casa?
Clássica. Todo momento. A verdade é que eu tenho a melhor pessoa para me explicar. Posso ficar cansada, mas é lindo porque é emocionante aprender o que estou ouvindo. Estou conhecendo um monte de coisas.
Algum conselho?
Escute Mozart. É espetacular. Mas também gosto da Novena de Beethoven. Vou descobrindo consitas, pianistas. Antes de conhecer Gustavo eu gostava muito de Ludovico Einaudi, que é bastante contemporâneo e suponho que também é muito cinematográfico. Mas sempre gostei mais de música independente. No início, eu também ensinei ele. Estamos descobrindo grupos pops e indies, coisas que jamais havíamos escutado. Eu o abro um outro mundo e ele abre um novo para mim.
De qual maneira essa relação é diferente?
No passado eu ouvia de mim mesma querer o melhor esposo. E isso foi de maneira inconsciente, porque ninguém me pedia nada. A mulher era apenas cuidar e ajudar. E não. Um tem que pensar em si mesmo para que o parceiro brilhe e demonstre o melhor que há entre os dois.
Como você se recupera das gravações?
Quando eu era mais jovenzinha eu passava mal. No início, no meu primeiro filme, La Flaqueza del Bolchvique (Manuel Martín Cuenca, 2003), fiquei muito triste, porque eu achava que meus companheiros eram meus amigos, minha família. Mas não. Alguns permaneceram, mas algumas relações se disciparam. São vidas pequenas, um nasce e o outro morre. É muito bonito.
E sobre sua relação com sua casa natal, agora o tempo é mais curto?
Estou buscando o ponto de união para eu não perder minha família. Mas agora, com a mudança de horário, é complicado, porque quando estou acordando eles estão no final do dia e se encontram cansados, de modo de que se conectar enérgicamente é complicado. Além do mais, eu sou muito solar e acordo hiperativa.
Alicia Vikander me contou que ela combina com seus pais para jantarem por Skype.
Que ideia boa! Eu tive café da manhã com a minha mãe enquanto ela tomava café da tarde. Ter Facetime e Skype ajuda muito as coisas. Lembro quando nós precisávamos ligar a cotar porque não tínhamos dinheiro. Como tudo mudou!
Fonte | Tradução – Yasmim
Em meados de 2016, a sofisticada grife italiana de joias, acessórios e fragrâncias Bvlgari lançou uma campanha para comemorar sua parceria com a Save the Children. Nomeado #RAISE YOUR HAND, o projeto tem como objetivo arrecadar mais fundos para a ONG.
Nos orgulhando mais uma vez, María foi uma das artistas que apoiou a causa. Veja um vídeo e foto:
María concedeu uma entrevista à revista Fotogramas, onde falou sobre seus projetos “The Limehouse Golem” e “Ali & Nino” – que estreiam em setembro na Espanha. Leia:
Vive em primeiro plano desde sua adolescência e pulou etapas a torto e a direito. Agora, María Valverde vive uma fase de reinvenção vital que coincide com as estreias de ‘Ali & Nino’ e de ‘The Limehouse Golem’. A atriz nos fala sobre esse processo e seu trabalho.
Passar as ferias conhecendo um pouco mais da Califórnia e desfrutando da casa em Los Angeles que divide com seu marido, o músico e diretor de orquestra venezuelano Gustavo Dudamel, se transformou em um palácio de verão para Maria Valverde (Madri, 1987) depois de um ano de muitos voos de um lado para o outro do oceano. Trajetos profissionais e pessoais (não passo mais de dois ou três meses sem ver minha família, venho o tempo todo, aproveito qualquer motivo por mais bobo que seja para viajar até a Espanha, aponta) de uma atriz que, ao mesmo tempo que internacionalizou sua carreira, confessa viver um período de reflexão e autoconhecimento, de transformação e de profunda vontade de ampliar horizontes e seguir evoluindo.
Talvez seja culpa da tão falada crise dos 30, completos há uns meses? Sim, pode ser, reconhece enquanto ri: Às vezes se questiona se quer seguir fazendo o que faz e perde a ilusão por certas coisas. Sim, é uma crise, mesmo que passe. Estou em uma exploração interna, provando coisas diferentes, vendo se quero seguir fazendo isso. Não sei se é comum aos 30, mas me sinto em um momento de mudança vital. Dediquei 15 anos à atuação, sem dar atenção, em parte, a outras coisas. Quero ir mais além. Gostaria de continuar sendo atriz, mas isso é algo que nem sempre se pode decidir, e sou muito consciente disso. Quero ser parte dos projetos desde o princípio e ajudar a lhes dar forma. E preciso encher-me de coisas que não tenham nada a ver com isso, porque são as que alimentam minha alma.
MADRI, LONDES, LOS ANGELES
María Valverde pulou etapas à velocidade da luz. Debutou, e ganhou um Goya (por La flaqueza del bolchevique, em 2003), sendo adolescente. Viveu uma juventude com certo aperto midiático durante sua relação com Mario Casas. E, sem deixar de trabalhar, nem perder certa pontaria pelos caminhos menos óbvios, decidiu tomar distância. A vida a levou a Londres, onde pode reconectar consigo mesma.
Os paparazzis dificultavam assim?
Naquele momento me custava muito entender. Agora é diferente, a perspectiva muda você. Em Londres me senti muito livre. O ato de ir ao metro, por exemplo: antes estava um pouco obcecada, se me olhavam, e passava mal. Agora me esqueço, acredito que por viver fora há um tempo e vir sozinha de vez em quando, e me sinto tranquila. Sem uma pressão que antes colocava em mim mesma. Eu acredito que as coisas mudam, se ajeitam, e você entende a situação um pouco melhor. E supondo que em alguns momentos um é um pouco triste, mas faz o melhor que pode.
Não seria fácil de aguentar…
Não era, mas tampouco ajudei que fosse um pouco mais fácil. É complicado porque perde naturalidade, sente que não pode ser você, te incomoda pelas pessoas que estão naquele momento com você… Imagino que tem que encontrar um balanço. Por isso, às vezes é muito bom o anonimato. Tudo termina sendo muito mais saudável. Agora levo tudo isso com muito mais senso de humor.
De Londres cruzou o oceano e se instalou em Los Angeles. Quer conquistar as Américas?
Não fui a Los Angeles por trabalho, nem para buscar oportunidades, senão por amor. De algum modo, os atores vivem de um modo parecido, porque nos movemos constantemente. Às vezes nossas vidas pessoais e familiares são um pouco caóticas, mas é questão de se organizar. Agora mesmo estou muito aberta ao que vier, sempre que imagino. Nós também temos que nos reconectar com a profissão de vez em quando.
NÃO AO CONFORTO
Amiga do risco desde que aceitou ser a protagonista de Melissa P. (Lucas Guadagnino, 2005), Valverde estrela este mês dois filmes com os quais segue ruindo o que sobrou da zona de conforto. Por um lado, Ali & Nino (Asif Kapadia, 2016), trágica história de amor marcada pela guerra, que a levou até o Azerbaijão. Por outro lado, The Limehouse Golem (Juan Carlos Medina, 2016), relato de suspense situado na Londres vitoriana.
Creio que as duas escolhas corresponderam a um estado emocional e vital…
Sim. Ali & Nino fazia parte de uma fase de lançar-me no vazio, de escapar em todos os sentidos da minha zona de conforto. O projeto chegou para mim quando estava na Inglaterra, vivendo uma sensação de recomeço. Uma etapa estranha e interessante, a qual sabia que podia passar. É um filme que fez com que eu me abrisse ao mundo. E The Limehouse Golem é consequência desse salto ao vazio. É certo que ambas têm um significado especial pelo momento vital em que me encantava. De algum modo, estes projetos se converteram no princípio de ater me reinventar.
Em um da vida à filha de Mandy Patinkin. Em outro cruza a investigação do personagem de Bill Nighy. Dois atores enormes e icônicos…
É verdade. Mandy é o ser mais maravilhoso que pode encontrar, alguém extraordinariamente único. E, claro, um ícone: o Íñigo Montoya de La Princesa Prometida! E Bill… sou fã absoluta de Love Actually… Mas nunca me atrevi a dizer para ele. Reconheço que ele é um ser mágico e, mesmo que só tivemos uma cena juntos, pudemos desfrutar de muitos momentos juntos, e sempre o guardarei em uma parte especial de meu coração.
O que a aproximou de Ali y Nino?
Me parecia uma história tão romântica e uma personagem tão forte: uma menina que se torna mulher e vive experiências muito duras… Asif queria fazer um filme que poderia ser filmado há muitos anos sem que saia de moda, com certo classicismo. Na verdade, esse é o cinema de onde viemos e pelo qual nos apaixonamos, os clássicos seguem sendo nossos referentes, mesmo que soe bobo. Mas a verdade é que me encanta ser boba. Em todo caso, tive que trabalhar muito para estar à altura.
Sendo, como sempre disse, tão perfeccionista, estar à altura deve ser algo esgotados e complicado de fazer.
Faz parte da minha personalidade. Não sou masoquista, não provoco dor em mim. Sei quais são minhas virtudes e as aproveito. Às vezes sinto que os enganei todos estes anos e não se deram conta (risos). Com Asif, o bom é que nos tornamos amigos e foi meu cúmplice. Como atriz valorizo muito que seja um diretor que filme junto aos atores, que não fique num pedestal. Me senti muito livre e não é comum. Na verdade, só havia acontecido com David Trueba, mas ele levava a câmera e nesse lavabo não cabia ninguém mais (e volta a rir, lembrando Madrid, 1987).
Em The Limehouse Golem, em frente um papel secundários…
Sim, e, se sou sincera, o aproveitei muitíssimo. E foi uma oportunidade para criar uma femme fatale. Gostei muito do resultado, a obscuridade de todos os personagens e essa paleta de cores decadente tão atrativa visualmente.
Seu futuro fala francês: Cédric Klapisch (Una casa de locos) a dirigiu em Nuestras Vidas en la Borgoña (Ce qui nous lie). E Mélanie Laurent o fez em Plonger e em Galveston.
Com Cédric vivi uma experiência preciosa, sabia que seria alguém muito especial só conhecendo seu cinema. Seu belo filme foi um presente. E Mélanie… é uma deusa. Um todo. Uma referencia de mulher e uma atriz que admiro muitíssimo. Qualquer coisa que me diga será pouco. Como diretora deu um giro na minha vida com Plonger, o melhor personagem que interpretei, e me segurou a mão tão forte como nunca fizeram. Entrou no meu coração. Com ela vou ao fim do mundo.
Fonte | Tradução – Larissa F.
Confiram os scans, ensaio fotográfico e entrevista completa traduzida para a revista espanhola InStyle:
Novo photoshoot vindo ai! María Valverde foi fotografada pela revista espanhola InStyle hoje em Madrid.
Após o ensaio, a equipe e alguns amigos da atriz cantaram parabéns para comemorar seu aniversário. Veja fotos e vídeos: